Automedicação pode causar danos irreversíveis aos rins

De acordo com dados recentes da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), mais de 140 mil pacientes estão em estágio avançado de doença renal crônica, submetendo-se a tratamentos, como a diálise, para sobreviver. O transplante de rim, que representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos realizados no país, é uma esperança para muitos desses pacientes. O Brasil ocupa uma posição de destaque global nesse aspecto, sendo o terceiro maior transplantador de rim do mundo, com 4.828 procedimentos registrados apenas em 2021. No entanto, apesar dos avanços na área, ainda há desafios significativos a serem enfrentados. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas no Brasil morrem prematuramente, a cada ano, devido à falta de acesso à diálise ou ao transplante de rim.

De acordo com o nefrologista Victor Jordão, os rins são órgãos chamados de “vitais” no nosso corpo. Eles são responsáveis pelo controle de líquido (o que fica, se está faltando, ou o que sai de água, se em excesso), de toxinas e sais, que devem manter equilíbrio no organismo, da acidez do sangue, da produção de células do sangue pela medula óssea e da pressão arterial. Sua disfunção ou perda de seu equilíbrio podem ter consequências sérias. “Muitas vezes essas consequências vêm por doenças relacionadas ao uso de medicações necessárias, porém tóxicas para os rins, mas é cada vez mais comum vermos uso abusivo de fitoterápicos, vitaminas, oligoelementos, anabolizantes e alguns suplementos”, alerta o médico.

“A automedicação pode levar a superdosagens de substâncias no organismo que, mesmo que já presentes ou até produzidas por nosso corpo, tornam-se prejudiciais em doses elevadas. Isso vale também para anabolizantes, que tem um efeito rápido na estética, mas uma conta cara a ser paga com efeitos colaterais, até irreversíveis, e risco de morte”, explica o médico. “Reforço que suplementos são para preencher carências da nossa alimentação, que deve ser adequada para nossos objetivos e para nossa saúde, e que nem sempre algo que é natural, ou até mesmo presente no nosso corpo, é melhor em mais quantidades. Os níveis devem ser adequados para uma saúde plena, junto a outros fatores, como bons hábitos de alimentação, exercício físico, sono e redução do stress”, diz Victor.

De acordo com Victor, os atendimentos a pacientes que tenham feito uso excessivo e acabaram comprometendo os rins têm aumentado em seu consultório: “esse tipo de consulta é cada vez mais frequente. Os campeões são, com certeza, o uso indiscriminado de anabolizantes ou, até mesmo, de ‘reposição hormonal de testosterona’, mesmo que acompanhada por médico, mas com muitos efeitos. Outro muito comum é o uso indiscriminado de Vitamina D, que é uma vitamina (ou hormônio) de extrema importância para o corpo, mas que se aplicada através de doses elevadas no sangue, como alguns estão objetivando, podem levar ao aumento de cálculos renais ou até lesão renal irreversível por toxicidade direta”, afirma. 

Desde o acesso rápido e fácil à informação, (que nem sempre é de fonte confiável ou verdadeira), o culto ao corpo inatingível, vendido em redes sociais, onde a pessoa, mesmo sem ter noção ou indicação de algo, quer copiar aquele influenciador específico, para ‘ser igual’, até à facilidade de acesso a qualquer produto atualmente, com contatos fáceis ou compras diretas online”, alerta o médico.

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