Vacina nacional ou importada?

Tenho sido frequentemente abordado por pessoas, inclusive colegas veterinários, que afirmam veementemente que vacinas de empresas nacionais não são boas. Afirmam que recebem vários animais com a carteirinha de vacinas perfeitamente preenchida e animais com doenças cujas vacinas deveriam prevenir.

É importante considerar que a vacinação não extingue o risco do paciente desenvolver a doença que aquela vacina previne. É bem pouco provável que um animal vacinado desenvolva a enfermidade que a vacina previne, mas não existe vacina 100% eficaz. De todas as formas, consideramos praticamente risco zero que um animal saudável e vacinado desenvolva a doença para a qual ele foi vacinado.

Mas então porque vacinas falham, e especialmente as “nacionais”?

Antes de falarmos sobre as falhas vacinais, devemos considerar o conceito de vacina ética e não ética. Vacinas éticas são aquelas vendidas somente para estabelecimentos veterinários de saúde animal, ou seja, clínicas, consultórios e hospitais veterinários. Vacinas não éticas são aquelas produzidas por laboratórios que permitem a venda a qualquer estabelecimento.

No Brasil, registrar uma vacina “importada” ou “nacional” requer os mesmos procedimentos. É dizer que mesmo que uma vacina que já é consagrada fora de nosso país, para adentrá-la e obter registro precisa passar por TODOS os testes novamente, realizados aqui no Brasil. Nossos órgãos de aprovação não admitem testes já realizados em outros países. E, por incrível que pareça, registrar um medicamento (vacina) na ANVISA, é muito mais trabalhoso no Brasil que em muitos países desenvolvidos.

Outro fator que deve ser considerado é que mesmo as vacinas ditas importadas, têm grande parte de seu manuseio e produção aqui no Brasil.

Mas então porque tanta gente fala das vacinas de laboratórios brasileiros.

Arrisco afirmar que o problema não são as vacinas. Nossos laboratórios produziram e produzem vacinas muito bem. É com vacinas nacionais que controlamos a raiva urbana em quase todo território nacional; é com vacinas nacionais que controlamos a febre aftosa nos rebanhos do nosso país; é com vacinas nacionais que controlamos uma infinidade de doenças em seres humanos….

Acredito que a grande dificuldade está no armazenamento e momento da aplicação das vacinas. Estabelecimentos não veterinários e despreparados para manter as vacinas podem descuidar da estocagem, manutenção da temperatura e manuseio das vacinas durante a aplicação. Se a energia acaba, por exemplo, durante a noite e a temperatura da geladeira sobe, as vacinas estragam e todos os animais vacinados com aquelas doses não serão imunizados. A temperatura das geladeiras comuns não é estável nem constante e a maioria dos estabelecimentos não dispõe de termômetros dentro das geladeiras que registrem as temperaturas ao longo do tempo. Também é desconhecido para a maioria das pessoas o fato de que a porta da geladeira tem temperatura superior à desejada para a boa conservação das vacinas; assim como que a abertura constante da geladeira pode elevar em vários graus a temperatura em seu interior.

Na próxima edição, a coluna abordará a questão da aplicação de vacinas.

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