Na agência de relacionamentos Par Ideal, de Curitiba, é possível perceber essa mudança de comportamento. Dos homens cadastrados à procura de uma parceira, 98,3% afirmam que estão dispostos a ajudar na educação dos filhos. Nas tarefas domésticas, 93,7% garantem que ajudariam. Os menores índices de aceitação estão entre os homens mais velhos, principalmente entre 51 e 60 anos. “Possivelmente na prática esses números mudem um pouco, mas, de qualquer forma, já mostram uma disposição muito maior dos homens em dividir as obrigações” afirma Sheila Rigler, pedagoga e diretora da agência. “Há 14 anos, quando abri a Par Ideal, os homens eram muito mais resistentes a esse tipo de atividade”, lembra Sheila.
Outro dado que chama a atenção entre os cadastrados na agência é o número de homens que já conquistaram na justiça ou por consenso o direito de criar os seus filhos. Entre os cadastrados, 66% têm filhos, sendo que 12,5% têm a guarda. “O número pode parecer pequeno se comparado ao direito conquistado pelas mulheres, mas já representa uma mudança representativa. Hoje muitos homens fazem questão de ficar com os filhos, isso não é mais encarado como um fardo”, afirma a psicóloga da agência Bárbara Snizek, que faz a ressalva: “Porém não podemos dizer que a regra vale para todos. Nas classes sociais mais baixas o cenário ainda continua sendo o tradicional”, ou seja, quando os pais se separam, a guarda fica com a mãe.
Ricardo Augusto Correa Costa, de 33 anos, é um exemplo típico de pai solteiro moderno. Além de administrar a sua lan house, cuida da mãe – que mora com ele, das atribuições da empregada, do supermercado, da cozinha e do seu filho de 14 anos. Há três anos, o adolescente mora com o pai. “Tento passar os valores que aprendi na infância. Quero que ele seja independente e saiba valorizar o dinheiro. Por isso trabalhamos juntos na loja e ele me ajuda em tudo”, explica Costa, que completa. “Quando chegamos em casa preparamos o jantar. Já ensinei ele a cozinhar e cuidar da casa, pois quero que saiba se virar sozinho”, afirma. O pai garante que o convívio é tranquilo e natural. “Não encaro a responsabilidade de criá-lo como um problema, muito pelo contrário, formamos uma ótima dupla”, comemora. Mesmo com tanta independência, o pai admite: “Estou procurando uma namorada, uma mulher que seja mais que um corpo bonito. Acho que na agência será mais fácil encontrar alguém dentro do meu perfil”, finaliza.
Novos tipos de família
Uma vez que os modelos de família mudaram, é preciso aprender a lidar com as diferenças. A psicóloga Bárbara Snizek, da Par Ideal, lembra que produções independentes, guarda compartilhada e uniões monoparentais (pais do mesmo sexo) são alguns dos novos modelos. “Não podemos ignorar essa realidade, pelo contrário, precisamos nos adaptar às mudanças e estarmos preparados para saber como agir com os filhos” ensina. Segundo a especialista, da mesma forma que os pais não podem esconder suas escolhas, não devem deixar que os filhos decidam por eles. “Eles precisam entender que, além do amor deles, os adultos querem se relacionar com outras pessoas para se sentirem completos, independentemente da composição familiar ser tradicional ou não”, explica. Em conjunto com a consultora em relacionamentos e diretora da Par Ideal, Sheila Rigler, a psicóloga preparou algumas dicas para os pais solteiros ou separados que enfrentam situações semelhantes no dia a dia.
- Não envolva o filho logo no início de um novo relacionamento. Espere consolidar um pouco a união;
- os filhos não precisam e nem devem vivenciar todas as experiências dos pais; por isso, espere a hora certa;
- uma vez consolidada a relação, não a esconda do filho;
- pais separados não devem se sentir na obrigação de fazer todas as vontades do filho como forma de compensação;
- não faça surpresas ao apresentar o(a) novo(a) parceiro(a). É preciso preparar o filho para a nova realidade;
- ao apresentar o(a) novo(a) parceiro(a), escolha um lugar neutro e, de preferência, público. O filho pode se sentir invadido se o primeiro encontro for na sua casa, por exemplo;
- se o desejo for morar com o(a) novo(a) parceiro(a), não tenha pressa para juntar as famílias. O processo deve ser feito de forma natural e progressiva;
- pais separados precisam aprender a dividir a atenção entre o(a) novo parceiro(a) e o filho. Essa relação não deve ser encarada como uma disputa por atenção;
- não aceite chantagens em função das suas escolhas. O filho deve aceitar a decisão dos pais e respeitá-la.