Vindo de uma família de classe média, Gabriel teve contato com uma outra realidade ao se mudar para o bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro, e fazer amizade com vários moradores da favela da Rocinha. “Pude ver de perto problemas como a desigualdade e o racismo. Éramos barrados em shoppings”, contou. “Quando se fala de favela, as pessoas só pensam em assuntos ruins, como o tráfico. Eu aprendi muita coisa boa com aquelas amizades. A gente surfava, andava de bicicleta, jogava bola.”
Foi a partir daí que o artista quis mostrar ao mundo o que via de errado. Antes mesmo de virar cantor, ele decidiu denunciar problemas como o racismo. “Fizemos uma faixa de 15 metros e levamos até o Maracanã. Demos a volta com ela pelo estádio.” Ele também contou com a ajuda de amigos para divulgar uma manifestação no pátio da faculdade. “Todos os jornais foram chamados, mas ninguém foi. Se tivessem ido, teriam acompanhado o ato de uma pessoa só, entregando panfletos contra o racismo”. Gabriel lembrou ainda como invadiu palcos de palestras e shows para dar visibilidade a problemas sociais. “Eu não subia para aparecer, era para protestar. Eu tinha muita vontade de mudar as coisas.”
O rap foi o instrumento que ele elegeu para dar voz aos problemas. “A música é capaz disso. O meu primeiro disco foi o caminho para desabafar um monte de coisas para um público mais abrangente. Com ela, é possível se expressar, trocar ideias e gerar polêmicas”. Segundo ele, até as crianças passaram a se manifestar através de cartas (“não tinha e-mail na época”). “Algumas diziam que os pais eram racistas e que elas não queriam ser como eles.”
Além da música, Gabriel criou, há seis anos, uma ONG para ajudar cerca de 30 crianças e adolescentes da Rocinha. Elas recebem aulas de arte, matemática e português. A ideia é mantê-las dentro da sala de aula.
A dica de Gabriel para os jovens que querem fazer a diferença é que estejam sempre informados e que procurem se unir a pessoas que tenham os mesmos propósitos. Ele disse que não é apenas na arte que as pessoas podem denunciar os problemas sociais. Isso pode ser feito também dentro de cada trabalho. Uma ideia pode ser a de entrar no movimento estudantil. Segundo o rapper, o importante é não ficar parado. “O jovem tem um papel fundamental. Dá trabalho, mas há várias maneiras de se mudar a realidade”, concluiu.
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