Rafael Daniellewicz
Rafael Daniellewicz
Visionário, Frei Betto iniciou o discurso apresentando uma versão da “escola dos seus sonhos”. Regada de idealismo e baseada em experiências com comunidades africanas e européias, a instituição construída no seu imaginário coloca estudantes e educadores vivenciando situações do cotidiano para a elaboração de um pensamento crítico sobre as questões sociais, econômicas e éticas na sociedade. “Não estaríamos formando indivíduos para o mercado de trabalho, mas cidadãos com valores sólidos e responsáveis”, declarou.
Segundo o filósofo contemporâneo, a escola estaria inserida na realidade da sociedade moderna e seria conduzida por educadores capacitados e comprometidos com temas relevantes da atualidade. “Não se fecharia os olhos para a realidade. A educação auxiliaria a criar uma visão abrangente do mundo – e não construir seres obsessivos e consumistas”, argumentou Frei Betto.
Objetivo e extremamente crítico, o antropólogo Roberto DaMatta foi enfático em discordar – porém sem desmerecer – a versão ideológica do amigo de longa data (Frei Betto). DaMatta trouxe uma visão dura e realista do contexto antropológico para o agravamento dos principais problemas nacionais, entre eles a educação. “Não concordo em vários aspectos com o sonho do meu colega, mas minha intenção é contextualizar o papel da antropologia e os ritos de passagem para a construção dos ideais sociológicos”, destacou em sua fala introdutória.
“Temos a mania de querer ensinar tudo às crianças, porém no modelo educacional brasileiro não somos capazes. Não existe tempo e investimentos para isso – e não existirá”, afirmou. Para DaMatta, existem muitas questões histórico-culturais de nosso passado a serem resolvidas, antes de querermos provocar mudanças profundas. “As questões que envolvem o indivíduo e sua relação com a sociedade são conduzidas pelos ritos de passagem, com base em conceitos extremamente rígidos”, explicou. Segundo o antropólogo, os educadores transmitem conhecimento por gerações que, embora transportados para temas atuais, ainda carregam os dilemas e contrastes de um passado marcado pelos dilemas e contrastes da sociedade brasileira. “Falta infraestrutura, programas e atenção à qualidade da educação no Brasil. As mudanças serão complicadas e exigirão o amadurecimento dos valores implícitos na sociedade brasileira. Teremos que sair do ciclo de repetição”, ressaltou.
DaMatta – que é professor doutor da Universidade de Notre Dame (EUA), doutor pelo Peaboy Museum da Harvard University (EUA) e articulista do jornal “O Estado de São Paulo” – citou a sobrevivência de rituais no mundo moderno. “Educar é ritualizar uma saída da casa para a rua. É aprender a ficar independente da família e tornar-se mais individualizado”, afirma o antropólogo.
As questões que envolvem o indivíduo e sua relação com a sociedade são temas recorrentes nas pesquisas desenvolvidas por DaMatta. Seu trabalho é pioneiro na investigação da sociedade brasileira, dos seus dilemas e contrastes. Por meio do carnaval, do futebol, de manifestações religiosas e das paradas militares, ele revelou a essência do Brasil e do seu povo. DaMatta é PhD em Antropologia Social e tem 12 livros publicados, entre os quais “Carnaval, malandros e heróis” e “Universo do futebol”. A relevância de seu trabalho levou a tornar-se membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do Instituto Histórico Brasileiro. Em 2000, foi eleito membro estrangeiro da American Academy of Arts and Sciences dos EUA.
Autor de mais de 50 livros, o teólogo Frei Betto defende a ética como base do ensino. “Há muita educação por aí que não infunde essa formação: engenheiros que cobram propina para aprovar obras, políticos corruptos, médicos que não admitem seus erros, sacerdotes pedófilos etc. Falta às nossas escolas um empenho profundo na ética de seus alunos. Essa deveria ser uma disciplina transversal a todas as outras”, afirma.
Segundo ele, a espiritualidade contribui para a educação, “pois incute na pessoa valores e paradigmas centrados no amor ao próximo e à natureza, no altruísmo, na solidariedade etc”. Frei Betto afirma que uma pessoa espiritualizada tende a ser menos egoísta, competitiva, ressentida, irada e mais aberta a Deus, ao outro, capaz de cultivar vida interior. “Bom seria se as religiões incutissem espiritualidade em seus fiéis”, diz.
Frei Betto é uma referência na prestação de serviços à cidadania. No Brasil atuou como assessor especial da Presidência da República e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Sua atuação em movimentos pastorais e sociais o fez acumular prêmios nacionais e internacionais. Foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Paolo E. Borselino, na Itália, por seu trabalho em prol dos direitos humanos.
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Serviço
9ª Feira de Gestão FAE Business School
Local: Shopping Crystal Plaza l Curitiba/PR
Data: 28 de setembro a 2 de outubro de 2009
Horário: 14h às 22h
www.fae.edu/feiradegestao
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