Luiza Helena Gomes Pereira Rocha escutou em seus atendimentos pessoas desesperançadas, impotentes, amedrontadas, que falaram da sua dor, de seus medos, de seus arrependimentos, de sua doença
Sessenta e quatro profissionais da área da saúde mental descrevem em livro as experiências de atendimentos pontuais oferecidos virtualmente nos primeiros meses de pandemia de Covid-19 no Brasil.
O grupo atuou de forma voluntária no Time Humanidades, iniciativa de apoio a qualquer pessoa que estava precisando de escuta especializada e que apresentava sintomas emocionais relacionados à crise gerada pela mudança de rotina durante a crise sanitária global.
Liderados pela psicóloga Ana Luiza Novis, os voluntários narram de uma maneira singular as diferentes perspectivas que vivenciaram na coletânea “Cuidados Compartilhados na Pandemia” (Hucitec Editora, 263 páginas). Relatam a parceria, os cuidados, as relações especiais, a profunda interação e compartilhamento. Uma pesquisa acompanhou a realização do trabalho, proporcionando um acompanhamento avaliativo do processo em andamento. A obra foi lançada no Rio de Janeiro (RJ) e, ainda, está na agenda lançamento em outras capitais, incluindo Curitiba (PR).
Entre os voluntários está a paranaense Luiza Helena Gomes Pereira Rocha, psicóloga e com experiência na área de Psicomotricidade Relacional. Em seu texto, intitulado “Humanidade”, ela destaca que a “pandemia nos aproximou do que temos de mais humano. Nós que vivíamos distraídos com tecnologias, correrias, trabalhos, conquistas… de repente nos deparamos com nossa humanidade”. E relata experiências de atendimentos de pessoas que se depararam com medo da solidão, da saudade, da morte, de descobertas.
A psicóloga observa que a pandemia fez submergir e aflorar sentimentos ao levar todos para dentro de suas casas e para dentro de si mesmos. “Fomos obrigados a olhar para o universo dentro de nós e a encontrar nossa solidão essencial. E aí se iniciou uma viagem de descobertas e redescobertas, de lembranças, de saudades, de sonhos há muito adormecidos”, afirma.
As pessoas descobriram ou resgataram talento e se depararam com dificuldades e limites, observa. “Redescobrimos prazeres simples e, ao mesmo tempo, toda a complexidade das experiências e sentimentos dos quais somos feitos. Recordamos com saudades de momentos mágicos de nossa vida e de momentos em que a dor e a tristeza tomaram conta de nós. Reencontramos nossos sonhos e percebemos de quantos desistimos apesar de serem tão lindos. De alguns lembramos e percebemos ser o momento de torná-los realidade. Ainda há tempo. Pudemos reler o diário de nossas vidas e fazer um balanço de nossas escolhas. Para alguns o saldo é positivo e para outros, não”, relata.
Luiza Helena escutou em seus atendimentos pessoas desesperançadas, impotentes, amedrontadas, que falaram da sua dor, de seus medos, de seus arrependimentos, de sua doença. “Contaram suas histórias. Choraram, riram. Mostraram suas feridas. Foram escutados com cuidado, respeito, afeto, sem julgamento, foram vistos e acolhidos. Sentiram-se humanos e, no encontro com esse outro, resgataram a sua humanidade”, acentua.
Segundo ela, o Time Humanidades tornou possível ajudar o outro a olhar para a esperança e, ao mesmo tempo, “encontramos nossa humanidade, naquilo que ela tem de mais belo: a solidariedade”. A psicóloga acredita que o ser humano é capaz de aprender, mudar, transformar, criar, recordar. “E a pandemia nos fez mais humanos”, frisa.
O livro foi dedicado ao médico e idealizador do Time Humanidades, Ricardo Cruz, e tem prefácio assinado pela médica pneumologista, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Margareth Pretti Dalcolmo.
Sobre Luiza Helena Gomes Pereira Rocha: possui graduação em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1984) e Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (2009). Tem experiência área de Psicomotricidade, com ênfase em Psicomotricidade Relacional e especialização em Didática do Ensino Superior Atua em consultório particular como psicoterapeuta.