A artrose no quadril é um dos grandes problemas que afetam a população adulta, e em especial, os idosos brasileiros. Até os anos 2000, existia apenas um padrão de tratamento: 90% dos pacientes aguardavam o desgaste total da articulação para posteriormente realizar a artroplastia, ou seja, a cirurgia de prótese de quadril.
Porém, essa mudança de paradigma começo com a publicação de um estudo seminal, do professor alemão Reinhold Ganz, sobre a alteração no formato dos ossos do quadril. Essa alteração é chamada de Impacto femoroacetabular e é uma das principais causas da osteoartrose. Esse impacto ocasiona um encaixe imperfeito dos ossos, o qual gera atrito entre eles e pode causar danos irreversíveis à cartilagem.
Foi então que em 2001, o ortopedista especializado em videoartroscopia e cirurgias preservadoras do quadril, David Gusmão, iniciou um treinamento pioneiro na artroscopia do quadril fazendo pequenos reparos na articulação, e educando seus pacientes no sentido de reduzir movimentos críticos, perder peso e diminuir algumas atividades que causam danos à articulação.
“O que o estudo do professor Ganz revelava era que algumas pessoas tinham alteração de formato no quadril, sutis e pequenas, e que sofriam desgaste acelerado. Observadas na dimensão apenas do raio-x frontal, não eram percebidas. ele então passou a analisar as alterações em três dimensões, colocando-as em movimento e entendendo como elas levavam ao desgaste do quadril”, explica o médico brasileiro.
Através do trabalho do professor alemão Reinhold Ganz, a comunidade ortopédica chega a um grau de compreensão maior do problema. “Anteriormente, a maioria das artroses era descrita como idiopática, isto é, surgia espontaneamente, sem que sua origem fosse conhecida. Após os anos 2000, entrou-se na era moderna da preservação do quadril com estudos e técnicas cirúrgicas para a sustentação dessa nova perspectiva”, revela o especialista.
Agora em 2021, os pacientes podem passar por uma intervenção benéfica que traz uma mudança significativa para suas vidas. “Agora é possível tirar a dor do paciente, aumentar a durabilidade da articulação, e elevar também a amplitude de movimento do quadril, permitindo a pessoa fazer maior esforço físico sem sentir qualquer tipo de incômodo”, destaca Dr. Gusmão.
Segundo o médico, essa descoberta do Impacto femoroacetabular aliada à videoastroscopia revolucionou a especialidade do quadril. “Apesar disso ter acontecido há mais de 20 anos, isso ainda é muito incipiente no universo da medicina, e por essa razão, muitos cirurgiões ainda não estão capacitados a fazer a artroscopia de quadril”, pondera.
Por ter iniciado seus estudos e pesquisas muito cedo, Gusmão tem ministrado aulas e cursos em dezenas de países como Peru, Argentina, Uruguai, Equador, Colômbia, EUA, Chile, e em todo o Brasil, “treinando médicos no sentido de preservar a cartilagem e prolongar a vida útil da articulação, melhorando a qualidade de vida de quem tem alterações no quadril”.
Hoje tratado como referência nesta área da medicina, Gusmão reforça o quanto as técnicas atuais podem trazer um conforto para o paciente, além de evitar tantos transtornos e sofrimento. “Temos uma grande oportunidade de mudar o curso da história natural de desgaste da articulação, salvando o quadril de pessoas que talvez precisariam de prótese ou teriam que parar de fazer atividades físicas. Agora, através de um tratamento minimamente invasivo com cirurgias por vídeo, a pessoa consegue manter a sua rotina de movimentos saudável ou sua atividade atlética profissional e possivelmente evitar uma futura prótese de quadril. Tenho pacientes de idades e trajetórias diferentes, mas uma coisa eles têm em comum: o desgaste cessa e suas vidas mudam para melhor após a intervenção”, completa.