Até 2020, o home office era uma tendência que crescia gradualmente no mercado. Porém, tudo mudou de forma acelerada com a pandemia, quando subitamente trabalhar em casa passou a ser obrigatório.
A adaptação não foi fácil para os profissionais desacostumados com a dinâmica de combinar as tarefas de trabalho às domésticas. Tampouco foi simples às empresas, que tiveram que revisar e remodelar estratégias para garantir uma transição livre de qualquer problema. Mesmo assim, não há sinais de que aconteça um retorno definitivo aos escritórios.
Isso porque, de um lado, boa parte dos colaboradores prefere o modelo remoto ao tradicional. Pesquisa recente da empresa de softwares Salesforce com 20 mil profissionais do mundo inteiro, incluindo o Brasil, mostra que 42% dos entrevistados gostariam de continuar trabalhando de casa, mesmo com o fim da pandemia. Entre os brasileiros, o interesse é de 57%.
Na outra ponta, o mercado tem entendido que, em um cenário de acirramento da agenda ESG, uma política de home office bem estruturada traz retornos positivos a curto e longo prazos. Além disso, há a percepção de que não seguir esse movimento significa cair no obsoletismo.
Talvez, o maior ganho da rápida adaptação ao trabalho remoto tenha sido na gestão de pessoas. Empresas implementaram medidas para aprimorar a comunicação interna e a assistência a seus colaboradores, como pesquisas e investimento em equipamentos – computadores, fones, cadeiras, entre outros – para quem necessitasse.
A busca por recursos e iniciativas que melhorem as trocas entre equipes e lideranças, como a implementação de ferramentas tecnológicas e webinars, estimulam a inovação, a digitalização e a transformação da cultura.
Acima de tudo, o home office, assim como outras adversidades da quarentena, ensinou que o ser humano é super adaptável, especialmente em meio a um cenário VUCA – acrônimo das palavras em inglês Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity, ou seja, Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade – no qual estamos.
Assim, entendeu-se que os diversos subsídios de pessoas dentro das empresas são reajustáveis. Treinamentos e feedbacks continuam constantes mesmo de forma remota. Certamente há perdas com a ausência do contato cara a cara e a sinergia no ambiente de trabalho, mas a essência do cuidado e da proximidade não foi perdida.
Sabemos que nem todas as companhias, principalmente as mais tradicionais, tiveram uma adaptação tão fluida, já que o home office implica em mudanças mais profundas de mindset e cultura. Além disso, o trabalho remoto ainda apresenta seus desafios, como o controle e medição da produtividade dos colaboradores e o cuidado com questões trabalhistas.
Porém, a autonomia e o empoderamento de cada indivíduo são o grande ganho dessa transformação. Compreender a demanda dos profissionais que, a duras penas, encontraram equilíbrio no trabalho de casa significa valorizar o capital humano como recurso fundamental.
Em 2021, talvez alguns empregadores com perfis mais cautelosos ainda deem preferência a um modelo híbrido. De todo modo, o home office passa a ser o formato dominante, e não só uma alternativa.
Rubiana Cruz é especialista em Gestão de Pessoas e consultora da Guiando