O estudo foi conduzido pelos professores Mário Terra Filho (USP), Ericson Bagatin (UNI-CAMP) e Luiz Eduardo Nery (UNIFESP).
O projeto concentrou pesquisas em conglomerados residenciais das capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Goiás e Pernambuco, examinando moradores de habitações cobertas com telhas de fibrocimento contendo amianto. Foram selecionados moradores de mais de 15 anos sob coberturas do mineral e que não tivessem outras causas de exposição às fibras.
No setor produtivo foram objeto do estudo trabalhadores e ex-colaboradores da mineração com mais de 25 anos de exposição ao amianto. As avaliações dos entrevistados se deram por exames clínicos e radiológicos (raio-X e tomografia computadorizada do tórax), além de prova de função pulmonar (espirometria).
Os resultados do estudo indicam que a concentração ambiental intra e extradomiciliar às fibras de amianto, nos conglomerados estudados, encontra-se dentro dos limites aceitáveis de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e nos mesmos patamares de países desenvolvidos.
“Não observamos, na amostra de moradores avaliados, evidências de acometimento clínico e funcional respiratório ou tomográfico passíveis de atribuição à exposição das fibras de amianto”, explica Ericson Bagatin, coordenador executivo da pesquisa. Isto se dá porque as fibras do mineral permanecem amalgamadas na matriz de cimento, principal matéria-prima das telhas e caixas d’água, fazendo com que o amianto não se desprenda, conforme já demonstrou o IPT – Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo.
Segundo Bagatin, a iniciativa da pesquisa resultou da constatação de inexistir estudos nacionais ou internacionais para avaliar riscos à saúde por uso de telhas com fibras de amianto em sua composição. Ao mesmo tempo, é uma forma de prestar contas a sociedade sobre os efeitos do produto sobre a saúde dos usuários.
A pesquisa foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e contou com apoio do Governo de Goiás, CT – Mineral e do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC).
Crédito: CMC – Irene Roiko
Movimento contrário
No mês de agosto, uma mobilização na Câmara de Curitiba defendeu a proibição do amianto. Segundo Fernanda Giannasi, engenheira civil e especialista em segurança do trabalho, o Paraná é o Estado que mais produz o minério fibroso, conhecido também como asbesto, “que, apesar de suas propriedades aparentemente positivas para a indústria, mata”, alertou. Segundo ela, o amianto causa câncer de pulmão, laringe, ovário e abdome. A profissional alertou na época que, embora existam movimentos no sentido de proibir o uso do amianto no Brasil, interesses econômicos ainda prevalecem em detrimento da saúde e da vida.