*Por Sérgio Luis de Oliveira
Em 2022, vimos o investimento no setor de transportes declinar consideravelmente, sendo o menor valor já registrado nos últimos 22 anos. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), a função orçamentária para Transportes em 2023 é de R$ 18,7 bilhões, incluindo investimentos e outras despesas, sendo o maior valor autorizado em oito anos. Desse montante, R$ 16,29 bilhões vão para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), vinculado ao Ministério dos Transportes. A expectativa de crescimento da economia brasileira para 2023 também é positiva e, segundo projeções do Ministério da Economia, o crescimento do PIB será de 1,4% a 2,9%, o que é um ótimo sinal para o setor.
Mais de 60% de tudo o que é produzido e consumido no nosso País chega ao seu destino por rodovias, portanto, a maior parte desse dinheiro será destinada à manutenção de estradas federais. No entanto, para os profissionais de logística, esse ainda será um ano desafiador e as empresas de transporte terão que estar preparadas para lidar com a alta demanda, a variação do preço de combustíveis, o valor do frete, a renovação da frota de caminhões, fatores macroeconômicos que afetam a cadeia de abastecimento por questões geopolíticas, sem falar na precariedade das estradas, que precisam urgentemente de manutenção.
De acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias de 2022, realizada em 110 mil quilômetros de vias federais e estaduais em todo o País, 66% das estradas são classificadas como “regular, ruim ou péssima” com relação a questões como pavimentação e sinalização, sendo que 75% da malha rodoviária com algum tipo de problema estão sob a gestão pública e 31% das rodovias estão concedidas ao setor privado. Ainda segundo a pesquisa, a qualidade das rodovias voltou ao patamar de 2019.
Diante desse cenário, a taxa do seguro de transportes aumenta em razão das ocorrências de sinistros, seja por avaria na carga decorrente do mau estado de conservação das estradas, seja por roubo realizado por quadrilhas especializadas. Por isso, o investimento em manutenção das estradas é um dos principais fatores que impactam o valor das apólices.
O gerenciamento de risco de transporte de cargas é um dos principais investimentos pelos transportadores de carga, já que qualquer sinistralidade acarreta em aumento do valor das mercadorias para o consumidor final. Uma ação que ajuda muito a área de logística é o rastreamento da carga que, além da segurança, permite que o gestor acompanhe, em tempo real, o trajeto realizado pelos seus caminhões, ajudando e garantindo que eles circulem e utilizem as melhores rodovias.
Outro ponto que irá ajudar na conquista de bons resultados em 2023 são as práticas de ¨Environmental, Social and Governance¨, pois o ESG é usado como uma espécie de métrica para nortear boas práticas de governança e sustentabilidade, proporcionando impactos positivos para as empresas que o adotam. Aredução do consumo de energia e da emissão de gases de efeito estufa (GEE), sem comprometer os custos operacionais e o nível de serviço logístico, pode promover aredução de custos operacionais e impactos. Estudos apontam que juntas, essas medidas podem reduzir em até 30% a emissão de gases de efeito estufa.
Um dos movimentos que, aos poucos, vem sendo implantado e deverá ser integrado efetivamente a partir deste ano, é a nova regulamentação do Documento Eletrônico de Transporte – DT-e. A inciativa visa facilitar as operações de transporte de cargas, em qualquer modal, eliminando a impressão de documentos eletrônicos e diminuindo o tempo de parada dos motoristas. Dados do Governo Federal apontam que os caminhões ficam cerca de seis horas parados em postos fiscais para comprovação de diversas documentações, acarretando em gasto de combustível e impressão de milhares de documentos pelas transportadoras. O DT-e dará celeridade tanto na atualização de dados quanto na praticidade que trará aos motoristas e agentes envolvidos.
Esses são fatores que influenciam diretamente na composição do custo do seguro de transporte de cargas e o acompanhamento dessas métricas é a melhor estratégia para a redução do índice de sinistralidade e dos custos das apólices de seguros, além de contribuir com a logística com um todo.
Espera-se que os níveis de investimentos no setor realmente se mantenham pelas próximas décadas e que os recursos sejam, de fato, destinados à infraestrutura, a fim de sanar os pontos críticos mais urgentes para que, então, haja uma estabilização das taxas dos seguros.
Sergio Luis de Oliveira é diretor da área de Seguros de Transporte de Cargas da Howden Brasil, corretora internacional de seguros e resseguros independente, e especialista em gerenciamento de riscos e gestão logística, envolvendo desde os modais mais simples até os mais sofisticados, como Fluvial, Ferroviário, Marítimo, Aéreo e Logística Integrada. É bacharel em administração de empresas pela Universidade São Francisco e pós- graduado em análise de sistema pela Faculdade Álvares Penteado. Atua no mercado de seguros há mais de 40 anos, tendo em seu histórico profissional passagens por grandes empresas, como Generali do Brasil e Noroeste/Bradesco Seguros, sempre atuando no gerenciamento e implantação de riscos não tarifados.