Ponto histórico de Curitiba ganha mural da mobilidade urbana

A inauguração do primeiro mural sobre mobilidade urbana de Curitiba, do artista visual Luiz Gustavo Vidal, criada em mais de mil azulejos e aplicada em fachada de prédio, atraiu uma multidão para o bairro São Francisco em Curitiba, no último sábado (22 de setembro), dedicado ao Dia Mundial Sem Carro.

A festa de inauguração teve a presença da Orquestra Ladies Ensemble, a única do Brasil composta apenas de mulheres, que tocou peças clássicas; da Banda Lyra, que apresentou o hino de Curitiba, e do grupo Lenhadores da Federal, formado por estudantes de Engenharia, responsável pela música de encerramento. Para tornar o evento ainda mais curitibano, a Cini forneceu a tradicional gasosa de gengibirra aos convidados.

O mural está aplicado na fachada do Edifício 13 de Maio, 1184, no bairro São Francisco, à esquerda da saída do viaduto que une as ruas Martin Afonso e Treze de Maio. O registro fotográfico que detalha o processo completo do trabalho, realizado pelo fotógrafo Rubens Nemetz, estará disponível para consulta online na Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba.

O Mural Mobilidade Urbana, iniciativa de LG Vidal em parceria com a Elejor, levou 8 anos para ficar pronto. Com um desenho ousado, ele convida as pessoas a refletirem sobre o tempo e a mobilidade no passado, o presente e o futuro. É uma obra para olhar, olhar de novo, sentir e refletir.

Com o mural, Curitiba retoma a vocação de cidade muralista, berço de grandes artistas como Poty Lazzaroto. Vidal faz referência a Poty ao utilizar a mesma técnica que, ao contrário do que se imagina, é extremamente morosa: “foram mais de 1.100 horas de forno para que os 1.250 azulejos do mural estivessem preparados e com o pigmento e proteção adequadas para resistir às intempéries”, contou o artista.

“É uma área importantíssima do setor histórico da capital e que recebeu uma completa renovação. Além de embelezar o edifício, o mural resolveu um antigo problema de iluminação deste trecho da Rua Treze de Maio”, avaliou Leonor Menezes, síndica do prédio 13 de Maio.

Para Osmar Carboni, vice-presidente da APAP/PR – Associação Paranaense de Artistas Plásticos, “a obra de Vidal é uma discussão atual, uma temática de sustentabilidade. Para onde vamos, o que somos”.

Acompanhado por Vidal, o músico e compositor Danilo Caymmi esteve em Curitiba na semana anterior a inauguração e conheceu a obra em primeira mão: “Um magnífico e espetacular mural na cidade de Curitiba que vem acrescentar muito ao ambiente urbano. Uma homenagem sincera a um tema contundente como a mobilidade urbana. Todo esse trabalho me deixa muito feliz e eu só me lembro de ter visto uma iniciativa pessoal desta magnitude apenas em Curitiba”.

Depoimentos

Catarina Kletenberg e Gisah Camarosk, mãe e filha, foram até o local e afirmaram que moram no bairro Ahú e costumam passar pelo viaduto várias vezes na semana. “Ficamos muito curiosas para saber o que estava por trás do pano azul. Há muito tempo não acompanhamos a inauguração de uma obra de arte na cidade. Estamos acostumadas a frequentar todos os eventos culturais. Curitiba precisa deste tipo de iniciativa”, confirmou Gisah, administradora.

O professor de educação física Juarez Santos acentuou que o mural “é muito colorido, traz alegria para essa região”.

A enfermeira do Samu, Giovanna de Paula, moradora do CIC, levou as filhas Roberta (11) e Paula (8) para a inauguração da placa. “É muito lindo. Você não imagina que debaixo desse pano azul sairia uma figura tão forte. As meninas também amaram. A Paula adorou porque a obra dele tem animais e bicicleta, duas coisas que ela adora. A Roberta me trouxe até aqui porque as crianças do colégio estão fazendo trabalho escolar sobre o Dia Mundial Sem carro e a professora falou sobre o evento”.

Olhar do artista

Vidal disse que a partir da observação da relação entre homem, animal e locomoção transformou pernas e patas em rodas de traços velozes e marcantes. “O desenho forte e o uso de uma cartela de cores reduzida, porém intensa, traz uma linguagem moderna e vigorosa ao centro histórico da cidade”, descreveu. Disse ainda que o mural está num local que as pessoas veem certamente todo dia, mas sem ver. Faz tempo que Curitiba não recebe um mural. E no centro histórico. E com iniciativa, coragem do próprio artista que olhou para uma parede rude e viu um boi. Viu uma mulher. E viu uma bicicleta. Tudo junto. E fez um extreme makeover no velho Edifício 13 de maio. “Não foi fácil, mas Matisse falou: a criatividade exige coragem”.

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