Orquestra de Músicos das Ruas do Rio de Janeiro apresentou a diversidade musical da cidade

Dezenas de vídeos filmados com o telefone celular ou câmeras fotográficas  foram postados no Youtube. De São Paulo, o maestro paulista Lívio Tragtenberg chegou à formação de sete músicos que representam um mosaico sonoro da cidade. Representantes de uma classe artística pouco habituada a se apresentar em conjunto sob a regência de um erudito, os instrumentistas encararam três dias de apresentação em uma sala especial para concertos, o Teatro de Arena da CAIXA Cultural RJ. Foram apenas três ensaios entre músicos que nunca tinham tocado juntos, e o resultado foi aplaudido de pé por quase cem pessoas no Dia Internacional do Trabalhador.

Com o patrocínio da Caixa Econômica Federal, o trabalho experimental proposto por Lívio despertou a curiosidade do público carioca, que mesmo num feriado foi ao Centro da cidade conferir de perto composições inéditas, criadas pelo grupo a partir das músicas e personalidades de cada um. Assim, os tambores do maranhense Cidel Trindade, a sanfona do capixaba Paulo Grande Solo, a guitarra do rapper Vitor Bhing I, as flautas do boliviano Guilherme Garcia, a tuba do bombeiro Thiago Ozório, o baixo do grafiteiro João Nitcho e o hang – instrumento suíço na forma de disco voador de metal – do carioca Elmar Moraes dialogaram em ritmos ora harmoniosos ora caóticos, de acordo com as instruções do maestro. “Os conflitos sonoros são como na cidade. É diferente da world music, em que todo mundo toca na mesma direção, faço a música colidir”, explica Lívio, que já montou outras orquestras em São Paulo, Miami e Berlim. “O Rio de Janeiro é uma cidade tensa, as pessoas estão sempre alertas, andam com estratégias de sobrevivência pelas ruas, e isso transparece na música do Neuropolis carioca”.

O projeto tem como particularidade combinar as contrastantes fontes e raízes musicais dos participantes, que compõem um mosaico sonoro circulante nas ruas das cidades brasileiras. Ao todo, foram apresentadas nove músicas, entre elas releituras de composições que os músicos trouxeram. Negro de cabelos compridos, vestido de batas africanas, Cidel trouxe para o palco uma homenagem a Iemanjá, que, com o acompanhamento do metálico claron do maestro e de um baixo elétrico, ganhou uma versão eletrônica.  De chapéu sertanejo, Paulo Grande Solo, que costuma tocar dentro do baú de seu caminhão de frete estacionado na Praça São Salvador, no Flamengo, teve de enfrentar o batidão de Deisy Tigrona reproduzido mecanicamente pelo maestro.

Estrategicamente posicionados lado a lado, sob a mira de uma luz azul, o hang e os instrumentos andinos garantiram momentos harmônicos e belos. “A música orgânica é aquela que sai no fluxo, de forma acústica e natural. Por isso foi muito difícil me conectar com os outros músicos. Tive de ficar atento ao maestro o tempo todo para não fugir da proposta ensaiada”, admitiu Elmar, que foi inspiração para um dos hits da orquestra, a música que tinha como único verso a frase Tem uns que são zen, tem uns que detém, tem uns que são sem.

Já o boliviano Guilherme, figura fácil do Largo da Carioca, se mostrou ambientado ao trabalho em grupo, liderando tanto solos de sopro certeiros como de cordas afinadíssimas. “Já tinha tocado num conjunto antes, na minha terra natal, mas não gostei da experiência. Com o maestro é diferente porque ele lidera e fica fácil”, comparou o andino que mora há 16 anos no Rio e fez ponta no filme do Hulk rodado na favela Tavares Bastos. Acostumado à rigidez de uma banda militar, o tubista Thiago Ozório aprovou a experiência. “Tocar no Neuropolis me deu a chance de uma nova vivência musical, com muita experimentação”, acrescenta Thiago, que foi o chão grave no qual a orquestra pôde caminhar. Professor da Escola Portátil de Música, Thiago protagonizou versão melancólica de Saca-rolha acompanhado pelo maestro.

O conjunto se completou com os grooves suingados do grafiteiro João Nitcho, baixista do Interferência Sound System (ISS), grupo que costuma se apresentar no Méier e no Complexo do Alemão, e a rima contundente de Victor, que teve uma de suas músicas reinterpretada pelo conjunto. Num outro momento do show, Victor dividiu as atenções com os mantras de Elmar. “Rio de Janeiro porque o caos é a sua tranquilidade”, perguntava o rapper na música. Ao final das apresentações, além dos aplausos, a plateia não hesitou em fazer perguntas aos músicos sobre alguns instrumentos. Para quem não foi ao Teatro de Arena, da CAIXA Cultura RJ, o resultado pode ser conferido no My Space.

Orquestra de Músicos das Ruas Em Curitiba
Gustavo Zielonka V. Rodrigues
41-8864-2486

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